segunda-feira, 8 de outubro de 2012

30/09/2012 - Maratona da Caixa de Santa Catarina

Maratona da Caixa de Santa Catarina


Essa tinha tudo pra ser a minha melhor maratona, a terceira. Sem dúvida nenhuma estava muito mais preparado e com mais rodagem que as duas outras anteriores. Além disso, não sentia nenhuma dor e não tinha nenhuma gripe para prejudicar o meu desempenho.

Estava tudo dentro das expectativas. Até tive a grata satisfação de poder ter uma entrevista publicada na edição de domingo do principal jornal do Estado, o Diário Catarinense, onde contava um pouco sobre o motivo do início da minha vida de corredor e os meus objetivos para essa Maratona de Santa Catarina. Curti bastante.

Cheguei bem cedo na passarela Nego Quirido, junto com o Ênio, que completaria a sua 100ª corrida, e com promessa de bolo e tudo. Depois de registrar a foto oficial da corrida no totem, fomos conhecer a tenda dos Loucos por Corridas do nosso amigo Sebastião, que iria correr a maratona vestido de Guga. A tenda serviu de ponto de apoio para os amigos de grupo. Muito legal. Por lá encontramos vários amigos que iriam participar da maratona, das corridas rústicas de 5 Km e 10 Km, e os que foram dar apoio e fazer a cobertura do evento. Destaque para o nosso amigo Sebastião que iria correr caracterizado de GUGA e que promovia uma bela ação social para crianças carentes. O tempo de espera passou voando.

A largada da maratona foi às 7:30, diferenciada das provas de 5 Km e 10 Km, que só ocorreram às 8:30. Isso é bom, para evitar aquele congestionamento inicial com grande número de atletas na largada e para evitarmos o sol mais intenso próximo do meio-dia.

A minha estratégia para a maratona era fazer um pace médio entre 5:20 e 5:30, durante os 30 primeiros quilômetros, e depois levar os últimos 12 Km com paces abaixo de 6:00. No garmin, pela primeira vez em corridas, programei o recurso do pacer virtual para 5:20 min/Km para que eu tivesse um referencial de como estaria indo. Esse recurso disponibiliza quantos metros e quanto tempo estou a frente ou atrás do pace programado.

Logo de início tivemos a primeira passagem pelo túnel, rumo a beira mar sul. O sinal do GPS do Garmin deixa de funcionar quando estamos literalmente dentro do túnel. Por isso as indicações de pace nesse local não são corretas, e é preciso tirar uma média dos dois quilômetros para termos uma informação um pouco mais confiável. No meu caso, a média do pace dos dois quilômetros iniciais foi de 5:09.

Avançamos aproximadamente 6 Km pela beira mar sul, quando fizemos o retorno. Estava conseguindo correr próximo do meu pace objetivo mínimo de 5:20 e me sentia muito bem. Pontos de hidratação não faltaram. Até tive que usar a logística de pegar em uma e não na outra de tanta água e isotônico. Melhor assim.

Se por um lado a ida estava bem tranquila, a volta da beira mar sul já se mostrava um pouco mais pesada. Começava aí uma pequena luta contra o vento, que duraria pelo menos por mais uns 13 quilômetros. Na empolgação do começo e me controlando com o pacer virtual fui conseguindo manter o ritmo, mas com um pouco mais de esforço. Sem querer, isso pode ter afetado o final da minha maratona.

Próximo novamente ao túnel tivemos a oportunidade de passar pelos atletas que estavam participando da prova de 5 Km e 10 Km e vinham do outro lado da pista em sentido contrário. Isso dá uma energia legal, com várias palavras de incentivo dos amigos que passavam pela gente. Um pouco mais adiante passamos em frente à passarela do samba, completando os 12 Km iniciais. Novamente mais uma dose de energia dos amigos que ali estavam e belos registros fotográficos.

A partir daí a corrida se tornaria mais solitária, no longo trecho pela beira mar norte. Ainda contra o vento, mas com a temperatura ainda bem agradável, me esforçava para não deixar o pace subir muito. Não estava fácil mantê-lo próximo dos 5:30. Isso durou até o 18º Km. Tudo ainda dentro do planejado. Eu não imaginava que o fator vento tivesse tanta influência, mas revendo os meus quilômetros que se seguiram sem o vento contra pude perceber que de alguma forma ele tinha me afetado, deixando o meu pace pelo menos uns 10s a mais por Km. Estava completando então a metade da maratona, registrando a minha passagem com aproximadamente 1h53min. Um pouco mais a frente era o retorno do lado da beira mar norte, já próximo a UFSC. Ocorreu na altura do 22º Km. Tudo indo muito bem e dentro do previsto.

1º Km – 06:51
10º Km – 05:27
19º Km – 05:22
28º Km – 05:34
37º Km – 11:01
2º Km - 03:27
11º Km - 08:21
20º Km - 05:21
29º Km - 05:32
38º Km - 11:27
3º Km - 05:18
12º Km - 02:06
21º Km - 05:25
30º Km - 05:37
39º Km – 11:05
4º Km - 05:22
13º Km - 05:16
22º Km - 05:23
31º Km - 05:36
40º Km - 10:59
5º Km - 05:17
14º Km - 05:31
23º Km - 05:10
32º Km - 05:44
41º Km - 10:53
6º Km - 05:14
15º Km - 05:30
24º Km - 05:29
33º Km - 09:14
42º Km - 09:24
7º Km - 05:15
16º Km - 05:33
25º Km - 05:37
34º Km - 11:05
 590m - 04:37
8º Km - 05:23
17º Km - 05:28
26º Km - 05:32
35º Km - 10:44

9º Km - 05:25
18º Km - 05:31
27º Km - 05:25
36º Km - 10:24


Agora só faltava um pouco menos que a metade. Nesse trajeto de volta da beira mar norte, foi ficando um pouco mais complicado. O cansaço já começava a dar os primeiros sinais, a temperatura ficava mais quente, e as pernas começavam a pesar. Novamente o ritmo caía, mas pouca coisa acima do meu objetivo. Brigava para não deixar cair o ritmo. Tinha certeza que a primeira parte dos 30 Km conseguiria cumprir, pois me sentia bem e muito confiante. 

Avançava já imaginando e preocupado com os quilômetros finais. Será que conseguiria manter o ritmo? Logo veio a minha passagem pelo 30º Km, ainda na beira mar norte. O tempo foi de 2h41min44s, e com o pace médio de 5:23. Primeira parte comprida e devidamente cumprida. Somente mais 12 Km para percorrer e eu ainda tinha pouco mais de 1h15min para concluir a minha maratona dentro do objetivo sub-4horas. Aparentemente parecia ser bem tranquilo.

Já estava chegando novamente próximo a passarela Nego Quirido e pouco antes de completar os 32 Km comecei a sentir as primeiras fisgadas na perna esquerda. Diminuí um pouco o ritmo e imaginei que isso passaria naturalmente. Na maratona do ano passado também comecei a sentir essas mesmas fisgadas a essa mesma altura e só consegui concluí-la, reduzindo drasticamente o ritmo.

Mais alguns metros e as fisgadas se mostravam cada vez mais presentes, mas ao contrário do ano passado, tentei sustentar o ritmo. Até que adentrei literalmente pela passarela do samba. Estava difícil até pra posar para as fotos. Já passava com a quebra do ritmo que vinha mantendo, mas somou-se um banho de energia renovada por rever os amigos que apoiavam do lado de fora. Essa energia ajuda muito principalmente nessa passagem, em que estamos entrando nos momentos mais críticos da prova.

Ganhei ainda o reforço a escolta da amiga Denise que me deu força e me acompanhou até a entrada do túnel. A partir daí iríamos repetir o percurso inicial pela beira mar sul.  As fisgadas estavam se tornando cada vez mais frequentes. Eu diminuí um pouco mais o ritmo, mas não queria parar. Até que, bem no meio do túnel, a alguns metros da placa de 33 Km, uma forte câimbra na perna esquerda me pegou de jeito a minha batata da perna virou uma bola. Simplesmente desabei no chão de tanta dor. Nem conseguia esticar as minhas pernas.

De todos os medos que eu tinha para maratona esse era o meu maior, pois sabia que se ocorresse me tiraria da prova. Fazia anos que não tinha esse tipo de câimbra  Nunca tinha ocorrido desde que comecei a correr. A dor era intensa e inicialmente o fotógrafo da Focoradical que estava por ali me ajudou. Em seguida um outro atleta que vinha logo atrás, vendo o meu estado parou e me ajudou a alongar a perna colocando a bolota no seu devido lugar. Sou muito grato a eles, pois estava totalmente sem ação. Como o pessoal é solidário. Nesse esporte, principalmente na maratona, as pessoas estão brigando para vencerem os seus limites e nem por isso deixam de ajudar os outros participantes quanto estes estão em dificuldades. Tentei me levantar em seguida pra continuar e a cãimbra também voltou novamente. Outra esticada da perna pra colocar no lugar.

Um pouco mais recuperado, disse então ao amigo para continuar que eu ficaria bem. Fiquei sentado ali olhando o túnel e vendo os outros atletas passarem por mim durante uns 5 minutos. Eu não me conformava. Tinha treinado tanto para o meu objetivo e estava indo bem. Entretanto, com esse acontecimento inesperado não iria mais conseguir. Pior ainda, nem conseguiria concluir a maratona. Já estava pensando de que forma voltaria. Pedi ajuda ao fotógrafo que ainda estava por ali, para me levantar, coisa que não foi nada fácil. Aos poucos fui andando e testando dar os primeiros passos. Olhei para o cronômetro que mostrava cerca de 3h02min na placa dos 33 Km. Eram somente 9 Km. Pensei, mesmo andando, consigo completar os 9 Km em pouco mais de 1h30min. Daria ainda para concluir em menos de 5 horas, se a maldita não voltasse.

Comecei então a caminhar bem devagar já conformado de não conseguir o meu tão almejado objetivo, mas pensando sim em conseguir completar a maratona. Mudança total de planos. Nem tinha coragem de ensaiar um trote, pois estava muito dolorido e com certeza a câimbra voltaria. Fui então curtindo o visual da beira mar sul, conversando com outros atletas que também passavam e caminhavam, me hidratando bastante, fiz algumas filmagens com o celular, e fui me ocupando para o tempo passar mais rápido. Uma maratona já demora, andando então, demora uma eternidade.

Por volta do 36o Km o amigo Renato chegava próximo e vinha bastante desgastado também, por conta de uma gripe nas vésperas da maratona. Aproveitamos e seguimos juntos, caminhando... Fizemos o retorno da beira mar sul e ganhamos o trecho final de quase 6 Km ainda, contra o vento. Pelo menos o tempo passou bem mais rápido. Fomos conversando e vendo os muitos amigos e conhecidos passarem. Da minha parte não havia mais o que fazer. Tinha mais é que ficar feliz por conseguir estar completando a maratona.

Novamente o vento forte vinha ao nosso encontro, mas a essa altura do campeonato já não importava muito. Só deixava um pouco mais frio. Eu só queria ver logo o túnel, pois seria a nossa última passagem por ele e era a indicação de estarmos no quilômetro final. Finalmente conseguimos passar por ele e logo ganharíamos a passarela do samba para finalmente chegarmos.

O Renato ainda conseguiu voltar a correr para a chegada. Eu nem arrisquei. Só na passarela mesmo que ensaiei um trote final com as pernas todas duras. Por mais que tivesse sido difícil essa última parte, a alegria de poder completar uma maratona é sempre muito gratificante, ainda mais ouvindo a galera toda gritando na chegada. A passagem pelo portal é uma emoção à parte. Tinha finalmente conseguido completar a minha 3a maratona e ainda abaixo das 5 horas, 4h43min58s. Juro que dessa vez não pensei: nunca mais faço uma maratona. Pelo contrário, fiquei com um nó na garganta de revanche. Ano que vem estaremos lá de novo e o desafio vai ser maior.

Depois de pegar a bonita medalha e repor as energias com água e uma boa salada de frutas, fui assistir a chegada dos outros “Loucos por Corridas”. Todos chegando muito bem e devidamente escoltados. Chegadas emocionantes, algumas até com dancinha de Gangnam Style.

Após a chegada de todos ainda tivemos o tão bem-vindo bolo em comemoração à 100a corrida do nosso amigo Ênio. Como caiu bem !!! Parabéns, Ênio. Que possamos ter várias comemorações centenárias pela frente !!!

 Eu e o Sebastião Guga Santos
 Foi dada a largada. Vamos aos 42 Km.
 1a. passagem. Por enquanto só alegria
 Ponte Hercílio Luz ao fundo e com o vento contra (ida)
No Km 32 (volta)
 Começava aqui o meu drama. Primeiras fisgadas mais fortes na perna esquerda
Fim de maratona ? Não. Muita dor. Solidariedade do amigo que passava e me ajudou. 
Demorou, mas cheguei. 
Muito feliz por ter conseguido completar a maratona

Local: Beira mar de Florianópolis - FLN/SC
Data: 30/09/2012 
Horário: 7:30 Hs 
Distância: 42,195 

Inscrição: R$ 77,80
Kit: camiseta, meia, porta número, número do peito e chip    

Tempo: 4h43min58s
Pace: 6:44 min/Km

Colocação: 76 de 90 (categoria 40-44 anos)
Colocação: 393 de 460 (masculino)
Colocação: 445 de 534 (geral)

10 comentários:

  1. Olá Eduardo,

    Um grande exemplo de determinação. Parabéns por não desistir e concluir a maratona, realmente é um experiência incrível. Você foi um vencedor!

    Vamos para a próxima!
    Bons treinos!

    Abraços.



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    1. Valeu, Marcelo. Você também mandou muito bem na sua estréia. Agora eu vou ter que esperar a próxima e já estou me coçando pra fazer a maratona de Curitiba.
      Abração.

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  2. Acho eu que, lendo tudo isso, você forçou demais no início. Aí lá no 32 a cãibra disse oi e ficou contigo até o fim. Acontece. Maratona tem dessas coisas. Também fiquei meio injuriado. Ano que vem vamos acertar contas com ela.

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    1. É verdade, Ênio. Essa câimbra veio e ficou no meu pé, ou melhor, na minha perna. Não queria me largar de jeito nenhum. Depois de ter acabado eu fiquei pensando comigo mesmo se não daria pra ter corrido de costas a partir disso... Bom, agora já foi. Na próxima a gente desconta. Abraço.

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  3. Olá, Eduardo.

    A Maratona SC este ano estava castigante. O vento foi um elemento a parte para os maratonistas. Completar este desafio mostra o quanto és um vencedor. Parabéns pela prova!
    E as fotos ficaram ótimas...

    Forte abraço
    Helena
    correndodebemcomavida.blogspot.com

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  4. Oi Helena. Muito obrigado. O pior disso tudo é que o vento deve ter me minado lentamente sem eu sentir muito, e quando cheguei no final faltou pernas. Mas como eu disse fiquei muito contente por ainda ter conseguido concluir. Pelo menos deu pra tirar várias fotos legais....rs. Agora eu quero voltar pra melhorar os tempos das provas mais curtas. Abração e bons treinos.

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  5. Estamos só iniciando ainda as nossas investidas nas provas longas, temos muito que aprender ainda. No meu caso tenho várias interrogações com relação a nossa performance nessa prova, tentarei sana-las numa próxima oportunidade. Valeu a companhia e o papo. Grande Abraço.
    Renato.

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  6. por Laura Carvalho Generini

    Hanada, se a vida fosse uma constante, além de chata, ela seria completamente sem emoção. Vc terminaria a prova com o tempo certo e isso aconteceria sempre... esqueríamos a essência da vida, que é viver um dia por vez... e tudo o que pode vir com ele. Foste vítima da condição humana. Nosso corpo tem limites que mesmo nós não conhecemos... mas resumiste tudo num ato: na próxima maratona será diferente! É isso que compõe os fortes, os determinados. Não há derrota e nem tristeza, há aprendizado e muita garra. Foste um campeão, terminaste a maratona, não desististe nem diante de toda a dificuldade. Fizeste amigos no percurso, provaste o valor da solidariedade... há maior prêmio? O tempo e o pace são meros detalhes, na próxima vc melhorara. Beijos, Laura

    10 de outubro de 2012 08:21 (Laura Carvalho Generini)

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  7. Respostas
    1. Verdade, Cidral. Ainda nem tinha aprendido a correr uma maratona direito. Hoje sofro um pouco menos, mas ainda sofro...

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