Maratona da Caixa de Santa Catarina - FLN/SC
Correr
uma maratona esse ano não estava nos meus planos. De repente ela
apareceu na minha vida. Dúvidas pairaram sobre a minha cabeça. Seria
essa a hora certa ? Eu conseguiria me preparar para esse desafio, cuja
distância era o dobro do que eu já havia conseguido percorrer em uma
corrida ? Teria tempo hábil para treinar ? Bom, depois de trocar ideias
com os amigos Loucos por Corridas (a maioria também com o desafio da
primeira maratona) decidi fazer a minha inscrição. Feito isso, a partir
daí não tinha mais volta.
Determinado
a concluir a maratona, mas limitado em tempo disponível para treinos,
aproveitei os vários finais de semana que tivemos no mês de agosto com
corridas canceladas para fazer os meus longões: 21 Km, 21 Km, 27 Km, 30
Km, 31 Km e 33 Km. Isso foi o máximo que consegui e com muito
sacrifício. Já nas últimas 3 semanas peguei uma forte gripe que me
limitou a fazer somente uns poucos treinos mais curtos.
Ansiedade
em alta até o dia da corrida. Fui até pegar o kit no primeiro dia pra
garantir. Por sinal um kit muito bom também, padrão Track & Field,
que se pagava tranquilamente com o valor da inscrição.
No
dia da corrida, os meus pais de SP que esta estavam por aqui foram
comigo assistir a maratona e me dar uma força na corrida, mesmo com a
expectativa de mais de 4 horas de espera.
Tempo
e percurso excelente para uma primeira maratona. Ao contrário da semana
anterior, que fez muito sol de manhã, no dia da prova estava bem
fresquinho, sem sol e sem vento.
A
largada da maratona foi às 7h45min na passarela Nego Quirido. Pouco
mais de 300 atletas partiram para percorrer os 42 Km. Iniciamos em
direção à Beira mar Sul. Em menos de 1 Km já estávamos entrando no
túnel, devidamente fechado para a nossa passagem. Estava correndo leve e
tentando manter o meu pace próximo dos 5:30/Km. Isso eu só consegui
manter até o 3o Km. Depois disso, com medo do que viria mais no final, já estava rodando próximo dos 5:40/Km.
Durante a corrida contei com o apoio e o incentivo de vários amigos que encontrava ao longo do
percurso. Enquanto corria em direção ao primeiro retorno no trevo da
seta, o William e a Suzy da X3 me acompanharam de bicicleta em boa parte
do trajeto. Como era início de prova ainda estava tudo tranquilo. O
retorno se daria próximo dos 6 Km e o meu ritmo dentro do programado. A
essa altura, o meu joelho começou a dar uma reclamada, mas eu sabia que
não duraria muito e logo iria passar. Ainda bem que estava certo.
Retornávamos então para a passarela do samba, no sentido da Beira mar
norte, na altura da UFSC.
Estava
conseguindo manter o meu pace em torno de 5:40/Km, passando ainda nesse
ritmo pelo ponto da largada, completando aproximadamente 12 Km. O legal
nessa passagem era que podíamos contar com o apoio do pessoal do grupo
que não estava participando da corrida, mas estava torcendo e
registrando tudo, inclusive os meus pais.
Passado
esse trecho, viria a parte mais bonita da cidade, porém a mais extensa,
a beira mar norte. Um longo trecho de belas paisagens estaria por vir.
Apesar de estar bem, acabei reduzindo o ritmo com medo das bolhas que
poderiam surgir nos pés, começando a rodar com o pace já próximo dos
6:00/Km. Apesar de solitário foi um trecho bem interessante da corrida,
pois o público incentivava os atletas nas passagens e nos mantinha
motivado.
Em
quesito de hidratação a organização não poupou esforços. Tinha
praticamente um posto a cada 3 Km entre água e gatorade. Era tanto que
já não aguentava mais tomar tanto gatorade.
Enquanto
seguia em direção ao outro retorno na UFSC, avistei a Sueli de bike e a
Fabiana, acompanhando um outro atleta, dando aquela força. Já quase no
retorno encontrei o Zé Carlos com a esposa. Isso é muito legal e é a
vantagem de se correr em casa.
Uma
das metas intermediárias era passar pelos 21 Km com o tempo em torno de
2 horas, e este foi praticamente o tempo que fiz: 1h59min53s. Pensei
até que poderia repetir a dose e terminar a maratona em menos de 4
horas. Mas a segunda metade da corrida é castigante. Não conseguia
manter mais o ritmo. O pace a partir do 23o Km já era
superior aos 6:20/Km e tendendo aos 7:00/Km. A essa altura eu já estava
retornando da UFSC em direção novamente a passarela Nego Quirido.
Eu
não podia arriscar não ter reservas para o final, pois já sentia o
desgaste. Novamente a força dos amigos deu uma animada. O Dalto,
passando de bike, me acompanhou por alguns momentos. O Luiz Felipe
chegou também de bike e me acompanhou por mais um tempo. Estava bom,
pois toda a beira mar estava interditada em uma das pistas. Isso
permitia que corrêssemos tranquilos e o pessoal de apoio fosse de
bicicleta. Nesse trecho de retorno fui sendo ultrapassado por vários
atletas. Eu sentia que o meu ritmo tinha diminuído bastante, mas também
ainda faltava muito e não era hora de acelerar.
Entretanto,
ainda tinha um medo que me assombrava. Eram as malditas bolhas nos pés.
Sabia que se elas saíssem ia ser bastante complicado continuar. Sorte
que como fui reduzindo o ritmo não sofri desse mal.
À medida que avançava o horário mais gente passeava pelas ruas, curtia e incentivava os participantes. Fui
chegando próximo da passarela Nego Quirido novamente para aí sim partir
para a última parte da prova, que repetiria o mesmo trajeto do início
da prova. Até essa distância (33 Km) eu já havia percorrido
anteriormente, mas os últimos 9 Km seria uma diferença que ainda não
havia experimentado.
Confesso
que cheguei me arrastando, passando pela passarela do sambódromo. Já
muito cansado e imaginando como seria dramático os quilômetros finais.
Parecia algo tão distante ainda... e era. Cruzando a passarela tive um
apoio que foi fundamental para a continuidade da prova: meus pais, a
Laura, a Marta, o Sérgio e até o Egomar estavam ali para dar uns
incentivos e ajudar no registro dessa passagem.
Além
disso tive o prazer da companhia no quilômetro seguinte da Maria
Teresa, Angélica, Roberta, e do Angelo Zenildo que me acompanhou a
partir de então até o final. Foi o meu resgate terrestre, mesmo já tendo
corrido os 10 Km. Achei muito legal os amigos “loucos por corridas”
terem resgatado cada um dos “loucos por corridas” que se aventuraram na
maratona, não deixando ninguém para trás.
Eu
particularmente já estava esgotado e prestes a ceder e continuar a
maratona andando, como uma boa parte dos atletas seguia. Mas com esse
apoio renovei as minhas forças para seguir correndo. Agora já estava no
mesmo trajeto do início, indo em direção ao retorno no trevo da seta. A
minha perna esquerda, após o Km 32, começou a fisgar, ameaçando dar
câimbra na batata de perna. Tive que me cuidar, reduzindo mais o ritmo,
para que não acontecesse o pior. Eu sei que as minhas câimbras me
deixariam totalmente sem condições de continuar, até mesmo caminhando.
Novamente o Luiz Felipe e um amigo se juntaram a nós (eu e o Angelo), e foi registrando os meus trechos mais difíceis e cansativos
nessa parte final. Passei pelo Chapolin (Sebastião) no túnel, eu indo e
ele já voltando. A partir desse momento a sensação de que poderia
terminar a maratona aumentava, em compensação o ritmo diminuía. Várias
fisgadas na perna esquerda foram me assustando nos quilômetros que se
seguiram. Sempre que tentava ir mais rápido ela aparecia. Não podia
chegar tão longe e ser vencido por uma câimbra, seria muito frustrante.
Os
quilômetros pareciam que dobravam de distância e a cada um vencido, o
outro parecia que ficava cada vez mais longe. Sorte a minha que estava
bem acompanhado e o tempo passava um pouco mais rápido conversando.
Senti que se não fosse a exaustão das pernas, poderia seguir em um ritmo
mais forte. Mas dessa vez não quis arriscar.
Finalmente
consegui atingir o último retorno no trevo da seta. A partir de agora
seriam menos de 6 Km para o final. Tinha usado um pouco de sal e as
ameaças de câimbras parece que foram reduzindo. Agora o vento já soprava
a favor, mas mesmo assim já eram quase 4 horas de corrida sem parar.
Como o Sebastião havia comentado anteriormente o cenário parecia de
guerra nesse trecho. Atletas andando cabisbaixos, tortos, puxando as
pernas, mancando, mas todos lutando para alcançar a linha de chegada.
Eu
estava de olho mesmo era no túnel, pois passando por ele a chegada
ficava a poucos metros. Mas não estava nem conseguindo avistá-lo. Cada
Km passou a ser uma eternidade. Eu já tinha pensado em tudo que podia
imaginar, pois tempo não faltou pra isso. Eis que chegou a placa de 40
Km e pude avistar finalmente o tão esperado túnel. Após uma pequena
elevação estava entrando por ele, ainda totalmente exclusivo para os
atletas. Sentia que o fim estava próximo e já podia ver a luz no fim do
túnel, literalmente. Deu até para arriscar uma aceleradinha final para a
chegada. Só faltava uma descida e o contorno para adentrar na passarela
do samba e concluir os últimos 200m.
Que
sensação maravilhosa vai tomando conta da gente nesse momento. Foi um
desfile de alívio, de satisfação, superação, conquista, de dever
cumprido. Um objetivo que parecia impossível de ser alcançado há 3 anos
atrás, com cerca de 20 Kg a mais, hipertensão, colesterol alto, profundo
sedentarismo, e um diagnóstico do cardiologista de um coração
envelhecido. Inicialmente eu não conseguia correr 100m de distância.
Graças a corrida tudo isso foi riscado da minha vida e consegui ainda
completar a rainha das corridas: a maratona.
Gostaria
de registrar o meu agradecimento a todos que de alguma forma me
apoiaram e torceram para que eu atingisse esse meu objetivo, pois nem
imagino como seria difícil percorrer essa distância sozinho.
Não
preciso dizer que cheguei extremamente cansado, não conseguindo nem
parar pra retirar o chip. Aliás acho que essa é a parte mais cruel da
corrida. Tirar o chip depois de percorrer os 42 Km. Comi umas bananas,
tomei mais um pouco de gatorade, e ainda ganhamos uma toalha de banho
bem legal pra gente se secar e se cobrir.
Fiquei
mais um pouco para ver a emocionante chegada do Nilton com boa parte do
grupo chegando junto. Depois disso tive que ir, pois estava muito
cansado e os meus pais deviam estar mais ainda por terem me esperado por
tanto tempo.
Agora, qual será o próximo desafio ???
Vanderlei Cordeiro de Lima - Padrinho da Maratona Caixa de SC
Até o Chapolin apareceu para a Maratona
Meus pais também vieram para me dar força
Percurso plano e com vista panorâmica
Quem disse que eu nunca passaria pela passarela do samba
A tropa de elite para me resgatar nos 10 Km finais - Valeu galera !!!
Luiz Felipe (bike) e o Angelo (correndo ao lado) me dando aquele incentivo final
Agora é só partir para o abraço. Eu consegui !!!
Local: Passarela Nego Quirido - Florianópolis/SC
Horário: 7:45 Hs
Distância: 42,195 Km
Inscrição: R$ 75,60
Kit: Camiseta, squeeze, boné, meia e número do peito
Tempo: 4h27min39s
Pace: 6:21 min/Km
Colocação: 32 de 40 (categoria 40-44 anos)
Colocação: 224 de 268 (masculino)
Colocação: 250 de 310 (geral)